18.5.12

A montanha imaginária

Hoje eu vou te contar uma história maravilhosa. Fictícia, mas maravilhosa. Imagine você chefe, comandante de uma velha cidade perdida nas montanhas. Imagine que num dos bairros dessa cidade as coisas começaram a se complicar. As pessoas, lá, estavam se desentendendo, muita desordem, muito roubo, muito assalto, fome, miséria, corrupção. Muitas brigas, invejas, ódios, ciúmes, desolação. Um perigo. Como você já deve ter imaginado, você é o chefe dessa cidade perdida nas montanhas. Logo, você é também o chefe desse bairro perigoso, onde as coisas, por alguma razão, fugiram ao teu controle. Por erro de administração, falta de tino gerencial, talvez inexperiência — não importa. Só sei que as coisas fugiram ao teu controle. Imagine também, agora, que você tem um filho. Um filho único, pequenino, inocente. Um filho bondoso, carinhoso, amoroso, que te beija e abraça toda noite, antes de dormir. Que não gosta de briga, que detesta confusão. Um filhinho inteligente, delicado, que gosta de lírios e pássaros. Ou seja, uma criança. Como você já deve ter imaginado tudo isso, eu agora te pergunto: para resolver essas rusgas lá no bairro perigoso na zona sul da montanha, cheio de bandidos e assassinos, você, como chefe supremo da cidade, vai pessoalmente — ou vai mandar essa criança? Você vai dizer: “Filho, vai lá resolver pra mim essa questão, porque o papai tá ocupado”, ou você vai dizer: “Filho, fica aqui, brincando e estudando, que o papai vai lá, resolver essa parada!” — ?!


Sabe. Conhecendo bem você — como eu conheço; sabendo do teu caráter, da tua bondade, da tua coragem; sabendo do quão humano você é, do quão digno e compreensivo você é — eu tenho certeza de que você, chefe supremo da cidade perdida na montanha imaginária, você mesmo, pessoalmente, iria lá, resolver a parada. Porque a gente que tem poder, tem que ter atitude. Tem que tomar o pulso da situação. Tem que encher o peito e cair no mundo. Portanto, conhecendo como te conheço, eu sei que você deixaria o teu filho único em casa, brincando em segurança, e iria lá, resolver a questão. Acontece que nem todo pai é assim. Nem todo pai tem discernimento, bom senso e sabedoria. Nem todo pai merece ter filho. Tem pai que é bunda mole — e nem merecia ser chefe de porra nenhuma. Nem da própria casa. Conheço um, que mandou seu Filho Único se foder lá na Galiléia. E ficou em casa, coçando o saco e vendo TV. Um pai desses eu não quero nem morto...