20.4.12

joyce ann

Mais duas coisas sobre ela. Aos treze anos, veio correndo até mim e pediu-me quinze reais. Foi a única vez que me pediu dinheiro. Pra quê, perguntei. Pra comprar um passarinho tão lindinho... Fui lá ver. Mas esse preço é com gaiola e tudo? Não. Ela ia comprar a avezinha para soltá-la da gaiola, ali na praça. Segunda coisa. Ontem à tarde ela estava em frente a uma vitrine no Guarujá, olhando um vestido branco. Eis que passa ao seu lado uma menina mancando, com a perna direita bastante queimada. Ela pergunta o que aconteceu. Queimadura de óleo fervente, disse a menina. Está doendo muito, mas não tem mais pomada e não posso comprar outra. Sabe o que Joyce Ann então fez? Abraçou a menina demoradamente, e deu-lhe o dinheiro todo com que compraria o vestido. E depois, à noite, pediu-me que a levasse à humilde casa da menina. Levar umas compras, um tubinho de Sulfadiazina de prata 1%, e doze claras de ovos.

Tem como não amar alguém assim?


E as pessoas me perguntam por que então me separei de Joyce Ann, se ela é realmente assim. Ora, porque eu prego exatamente isto: as relações de amor devem sempre acabar no pico — e por consenso. Depois do pico não existe mais nada, exceto talvez uma ribanceira. Eu e ela nos separamos no Pico porque o Pico é o melhor lugar possível para se deixar um grande amor. Ou vocês acham que eu deveria abandoná-la no sopé da montanha?