31.10.10

Dilma decididamente

Este é um blog literário, eu sei.
A poesia não deve tomar partido, também sei.
Mas o poeta não pode ficar alheio às grandes questões nacionais.

Por isso manifesto aqui, explicitamente, o meu apoio ao Projeto Dilma Presidente.

Dilma, decididamente!
Neste domingo estou em SP, especialmente para votar.
Veja aqui algumas razões pelas quais eu voto em Dilma.


Com exceção de algumas fórmulas matemáticas, não existem verdades definitivas. O que existem são interpretações elaboradas sobre aspectos da realidade — cientificamente comprováveis ou não — mas necessariamente condicionadas pelo ponto de vista, visão do mundo e capacidade intelectual de quem as propõe.

30.10.10

como sera que faz amor

Como será que faz amor quem não gosta de poesia? Quão frios serão seus gestos ao tocar o corpo amado? Que palavras secas doces dirá talvez ao declarar suas paixões? Como falará da lua? Como será que beija flores? Com quanta suavidade riscará o fósforo para acender a vela? Com que candura entornará o vinho para encher a taça? Como será que faz amor quem não gosta de poesia?

29.10.10

vou me apaixonar por 15 dias

Acho que desta vez vou me apaixonar por quinze dias... Ou será que agora vai ser por toda a eternidade? Ou talvez por apenas duas ou três horas? Quinze minutos, quem sabe... Não sei. Realmente, não sei. E seria leviano de minha parte fazer esse tipo de promessa. Até porque não sou eu quem determina o tempo, a intensidade e a duração dos meus amores: — é o meu próprio coração. Ele tem autonomia, é completamente livre, independente, e faz o que bem quer. Afinal, se eu todo sou livre, por que só meu coração não seria?

alma louca

Se algum dia minha alma for mais acomodada do que louca, serei o primeiro a deixar de me amar.

28.10.10

poeta filosofo

Meu trabalho é escrever apenas, e contar histórias para mudar o mundo. Arriscar a Vida em teu nome e fazer loucuras por mim também. Dançar profundo à beira do abismo, e tecer a sorte como se aranha. Porque, no fundo, há dois amantes loucos morando em mim: um poeta e um filósofo. O filósofo compreende tudo porque reflete muito por sobre o pouco que o outro pensa. E acaba vendo mais longe no espelho das coisas porque sobe numa escada chamada Razão. E isso é bom. Mas o poeta, esse não compreende nada — porque não precisa de coisa alguma. Nem pensa em pensar profundo, só dança com seus amores. Não vê mais longe, nem vê mais nada. Mas sua escada de fogo se chama Poesia. E isso é belo.

27.10.10

Rose



Escolho-me
como se não fosse único,
e depois me cubro de amores
como se fosse
de Roses
– livres, deliciosas e floridas.

Por isso é que me amo todo, no ato.

E danço com minha própria Gostosura.

Sou eu mesmo o meu prato,
preferido, meu Amor.
Tenho fome de mim.
Sacia-me.





A bonequinha que ela me deu, o champagne que tomamos nas escadarias do MASP, e a foto de Rose. Guarujá, 2004. Eu dei agora um click na foto aí de cima, e depois mais um click sobre ela para ampliá-la. E fiquei aqui, me lembrando de como foi que conheci essa mulher menina chamada Rose. Foi de forma indireta. Eu vinha pela Av. Francisco Matarazzo, em SP, e já estava quase subindo pelo Elevado Costa e Silva, quando vi uma mulher muito bonita andando na calçada. Parei o carro, imediatamente, voltei de ré por alguns metros, desci, e saí a pé em busca dela. Conversamos. Ficamos amigos. Transamos acho que uma vez só, pois ela era ciumenta. Mas, alguns dias depois, jantando no Star City, essa menina me disse que tinha uma amiga linda, cujos seios eram perfeitos, etc. Pois bem, essa "amiga linda de seios perfeitos etc." era justamente a Rose — por quem, algum tempo depois, eu viria a me apaixonar por toda a minha vida. O nome da ciumenta eu não me lembro.

Sacia-me

Sou eu mesmo o meu prato preferido, meu Amor.
Tenho fome de mim.
Sacia-me.


Publiquei esses versos hoje de madrugada. Pensando em Rose e Dayane — e em manjar de bananas e doce de abóbora. E logo de manhã Rose me liga, depois de seis anos sem nos vermos. Essas coincidências me fascinam. São o tema principal do meu novo livro Teoria do Acaso. Aliás, nesse livro Rose tem direito a várias páginas, tantas as maravilhosas aventuras que juntos vivemos.

26.10.10

meu nome é joao

o sossego e a gloria

Porque eu também tenho dois lados no meu interior: o que diz tudo, e o que esconde algumas coisas; o que é livre, e o que é bobo. Na verdade, sou uma arena psicológica em que um gladiador derruba leões de mil faces. Meu superego é desesperadamente forte, e às vezes me segura nos momentos poéticos que antecedem saltos cruciais. Fico em dúvida, certos dias, entre o sossego e a glória.

25.10.10

vladimir herzog

fascinio

Logo de manhã, assim que abro a janela do meu peito e ouço pássaros cantando, já tomo a minha dose diária de fascínio — por mim e pela Vida. É por isso que, como o Mefistófeles de Goethe, em cada mulher livre eu vejo uma Helena de Tróia. Dizem até que esse é o meu maior defeito. Mas eu acho essa a minha melhor virtude.

Joyce Ann, uma das minhas Helenas, me deixava bilhetinhos assim, floridos, todo dia...

24.10.10

amo voces duas

Eu amo vocês duas:

Ela é indispensável, e você — fundamental.
Você é maravilhosa, ela é fascinante;
você é um amor, ela é minha vida.
Você é divina — ela é perfeita.
E ela não te exclui da relação: ela te ama,
Ela te aceita...

Mas você às vezes pretende excluí-la,
afastá-la de mim.

Por isso,
se eu tiver que optar
por uma apenas de vocês duas,
— é claro que eu ficarei com Ela.


Mas eu amo vocês duas.
























Será preciso dizer que o nome dela é Liberdade?

23.10.10

exercicio da liberdade

Nas relações de amor, a traição nada mais é do que um exercício da liberdade.

Mas o que é traição? Qual é o meu, o teu, o dele, o nosso conceito de traição? Essa coisa só acontece em relações fechadas, ciumentas, possessivas. Ou seja, a traição só pode ser chamada de traição se for feita às escondidas. E só se faz às escondidas uma coisa que a sociedade considera errada, feia, suja. Tem tudo a ver com sexo. Porque nascemos numa sociedade que valoriza demais o sexo, e penaliza ferozmente o sexo livre. A sociedade aplaude a monogamia, mesmo sabendo que esta é a principal causa da impotência e do tédio entre os casais. Portanto, ou você faz às claras, ou não faz.

Jamais iluda o teu amor!


Eu disse "Jamais iluda o teu amor", mas fico pensando. E se o teu "amor" for um ditador? Se aquele teu amor maravilhoso virou um ditador? O que fazer? Meu conselho: dê um chute na bunda dele. Mas, se as circunstâncias ainda não permitem, engane-o! Ditadores merecem ser enganados.

Este texto não está completo. Ainda tenho que escrever mais.

22.10.10

vida milagre

Se a Vida é um milagre, por que então desprezar esse milagre? Por que desprezar as circunstâncias amorosas que me envolvem? Por que afastar esses anjos delicados que me trazem alegrias tão gloriosas, inocentes e profundas? Por que repelir essas vibrantes criaturas que transformam meu peito num ensolarado jardim de corações? Por que deveria eu desperdiçar energias afastando as tentações que me tocam todo dia? Por que recusar abraços e ternuras? Em nome de quê deveria eu recusar estrelas, girassóis e gostosuras?

21.10.10

Duo Main Tenan T



"O que será que aconteceria se,
em vez de apenas vivermos nossa vida,
nós tivéssemos a loucura ou a sabedoria de dançá-la?"

20.10.10

madrugada vida

Seis da madrugada, e vejo que Aurora está chegando, numa belíssima carruagem de fogo guiada por seu filho, o Grande Deus da Luz... E eu aqui, tomando um copo de leite, abraçado ao que resta de mim, pensando na Vida. E chego a uma doce conclusão:

Porque sempre fui fiel a Ela — Ela nunca me traiu. No fundo, penso que há uma certa reciprocidade entre o que sentimos pela Vida e o que Ela sente por nós. Se a deixamos livre, Ela também nos liberta. Se a prendemos, Ela nos põe entre ferros. Se a desprezamos, Ela nos massacra. Por isso temos que amá-la desesperadamente. Com exclusividade!

19.10.10

Jesus

Imagine se, em vez de ter ido à Montanha fazer o Sermão, Jesus tivesse ido ao Pão de Açúcar buscar fraldas descartáveis. Ou se precisasse ter ficado na cozinha trocando o bujão de gás, ou consertando a torneira da pia. Imagine o coitado chegando em casa à noite, exausto, depois de intensas reuniões com os apóstolos, e encontra Madalena de avental, fritando bife, com as mãos na cintura, descabelada, ciumenta, cheirando a cebola:
— Jê, onde você tava até agora?!
Imagine ainda Jesus na sala, mais tarde, compenetrado, conversando com o Pai por telefone, fazendo o relatório do dia, e a esposa gritando lá do quarto:
— Amor... O Júnior tá com febre...

Pois, é: "nada" contra o casamento tradicional, mas:

Se Jesus tivesse casado, a Humanidade teria desperdiçado um Deus.



Agora, imagine uma outra cena maravilhosa: Jesus, sorrindo, deitado solto no colo de Maria, que massageia-lhe o corpo inteiro com seus cabelos embebidos em nardo, e Judas reclamando: "Porra, Jesus, esse perfume custou trezentos paus! A gente podia alimentar um monte de pobres com essa grana toda..."
E Jesus, um verdadeiro mestre zen, um iluminado, Filho de Deus, primogênito, responde:
— Não te aflijas, meu caro Judas, pois pobres sempre hão de existir, mas Eu: só hoje!

Esse cara sabia viver!


Em verdade, em verdade, eu vos digo: Há dois Jesus Cristo: o teológico e o histórico. O Jesus da Teologia é Filho de Deus, personagem central da Mitologia Cristã — e sobre Ele não quero falar agora. Nem é preciso, pois os estudiosos se encarregam disso.

Mas o Jesus histórico — esse era "o Filho do Zé Marceneiro". Desde pequenino já era diferente. Ovelha negra. Uma mistura de santo, poeta, filósofo, artista e mestre zen. Solucionava conflitos, mostrava caminhos, fazia milagres. Charmoso e simpático. Cabeludo. Falava por parábolas — ninguém o entendia. Amava mulheres e homens. Era completamente livre. Nunca se casou. Adorava uma festa: bebia vinho, dançava, brincava com todo mundo. Vivia sorrindo. Gostava de perfumes e cremes. Namorou Madalena. Dormia pouco. Jamais trabalhou...

Um era Filho de Deus, os dois eram Sábios — e ambos merecem o meu respeito.

Mas eu gosto muito mais do Poeta!


A cena de Jesus no colo de Maria e o diálogo com Judas estão na Bíblia - Mateus 26:6-13
A cena de Jesus casado está no Manual da Separação 142:4
Tal tema se deve ao Natal que se aproxima. Aliás, tudo isso vai estar no meu livro The Master of Jesus.




editorial

Editorial.
O caluniador, figura da barbárie
Juarez Guimarães - Carta Capital.

"O que está ocorrendo aos nossos olhos não pode ser banalizado. O caluniador é uma figura da barbárie, o sinistro que mobiliza o submundo dos preconceitos, dos ódios e dos fanatismos. A calúnia traz a violência para o centro da cena pública. Perante a calúnia não há diálogo, direitos ou tribunais isentos (...) Mas quem é o caluniador, essa figura de mil caras e rosto nenhum? É preciso dizer alto e bom som, em público, o seu nome, antes que seja tarde: o nome do caluniador é hoje a candidatura José Serra! (...) O que está se passando mesmo aqui e agora na jovem democracia brasileira? Que arco é este que vai da TFP a Caetano Veloso? (...) A força da liberdade que hoje mora no coração dos brasileiros, os braços abertos do Cristo Redentor e o que há de imaginação e magnífica pulsão de vida na cultura popular dos brasileiros são os verdadeiros antídotos contra as figuras do ódio do caluniador. Por detrás da sua máscara, o povo brasileiro há de reconhecer os centenários adversários de seus direitos. Diante do caluniador, sejamos todos Dilma Rousseff!"


Leia também esta análise.

18.10.10

minha reta vida curva

Toda minha vida é uma curva deliciosa, mas também um risco só. A gostosura da surpresa é o que me encanta de verdade. Meu coração pulsa sempre em nome da alegria. Tenho noventa mil quilômetros de vasos sangüíneos repletos de flores. Sou movido a emoções. Vivo saltando profundo, toda hora, todo segundo... E só há uma única chance de eu morrer na cama: é fazendo amor. Doente ou cansado — jamais!

meus amores não morrem

As pessoas que eu amo, raramente morrem.
Sorte minha — e delas também!

17.10.10

morte

Eu não choro a morte de ninguém. Tenho uma compreensão absoluta desse fato inexorável que é a morte biológica das pessoas que eu amo. A primeira morte marcante de que agora me lembro é da minha vó Vitalina. Depois, há mais de vinte anos, a de meu pai — a quem escrevi um poema de amor. E a mais recente, ontem, a do Gaiarsa — com quem troquei e-mails há cerca de vinte dias. São essas as três únicas mortes que me fariam chorar. E mesmo assim não fizeram. Porque, para mim, a morte nada mais é que uma separação radical. Como não tenho sentimento de posse sobre aquele que morre, não posso dizer que lhe sinto a falta. Não há luto na situação que me resta. E se algum dia eu chorar (ou chorei) por alguém que morreu, é só pela lembrança daquilo de bom que algum dia fizemos, um para o outro.

Não há sentimento de perda, nem um vazio me toma de assalto. Eu compreendo sempre o acaso que nos liga — e o acaso que nos separa. Claro que detesto supor que a morte pode ter sido dolorida a quem a sofreu. Nesse sentido, um dedinho queimado de alguém me esquentando café no fogão de manhã me incomoda também. Sou contra a dor, não sou contra a perda. Aliás, só a perda abre caminho para o novo — e o novo é fascinante.

Claro que tem uma morte que vai me afetar diretamente: a minha. Embora remotíssima, eu também a compreenderei... Mas não quero ser chorado apenas porque fui. Aliás, imagino-me saudado em meu último dia como o personagem de Charles Denner no filme O homem que amava as mulheres.
Mas digo isto porque sei que vou durar para sempre. Para sempre ou até os 120, pelo menos. Ou talvez eu morra como previ naquele meu poema que está no livro Solidão a Mil — no cume da montanha, louvado por Maria e minha mãe. Não sei. Daqui uns oitenta anos eu talvez pense um pouco mais a respeito.


Por razões pessoais, repeti o texto acima aqui - em 02.11.2010.

16.10.10

Meu amigo Gaiarsa

Ontem fui almoçar na casa dele em São Paulo. Encontrei-o sentado e sorrindo naquela sua cadeira balanço maluca pendurada no teto da sala. Amo esse homem, porque nada nele é fixo — exceto seu respeito sensual pela Vida e sua pregação amorosa em defesa da liberdade. Foi ele quem mais ensinou-me a ver o mundo como se fosse uma flor. Levei-lhe o meu livro Manual da Separação com a seguinte dedicatória:

Ao mestre.
Gaiarsa, você mostrou-me um caminho novo quando eu tinha vinte e sete anos. E depois ajudou-me a percorrê-lo, de modo radical e mais profundo. Como eu vinha, acabaria sendo feliz de qualquer forma — mas, sem você, teria demorado muito mais.
Te amo!


Eu havia passado quase quatro anos sem falar com ele.
Vejo que melhorou muito nesse tempo.
Está com 88 maravilhosos anos.


Gaiarsa: meu guru.

Meu guri...



Uma aula de sexo em nove minutos.



Veja aqui o e-mail que recebi hoje do Gaiarsa:


xadrez

Eu sei jogar xadrez. Minha vida é um enorme tabuleiro inclinado, e sou o conjunto de todas as pedras. Dei meu primeiro lance poético no dia em que nasci: P4CR. Mas não estamos ainda nem no meio da partida principal. E meus adversários já dizem que irão pedir ajuda ao Kasparov... Não vai adiantar: sou o mestre de Viswanathan Anand.

15.10.10

tumulo

Às vezes, por mera curiosidade, só para conhecer-lhe os limites e a escuridão, posso até entrar num túmulo por certo tempo. Mas não deixo de respirar profundamente — e jamais permito que cimentem a lápide por sobre mim.
Que a metáfora seja entendida: o casamento é o túmulo do amor.

13.10.10

obra e autor

Nenhuma obra jamais supera a vivência do próprio autor. Literatura sem observação é vazia. Sem experiência toda arte só pode ser oca. Nada substitui a vida. Para Voltaire a coisa mais bem distribuída no mundo é o bom senso: ninguém acha que tem pouco. Nem eu. Nem você, é claro. Mas, antes do fato, não me importa o que se diga dele. Sou comedido ao contar as aventuras — são muitas, teria de contá-las devagar. Quando chego a mil, perco a conta, começo tudo outra vez. Mas não conto todas: não sou louco... Eu gosto mesmo é de vivê-las, as aventuras, não de contá-las. Só as conto por precisão, por ócio, por ofício — e por amor. Para mostrar a você que é possível viver fundo — e viver tanto. Tudo de uma vez!

Bar Brahma SP

11.10.10

lapidar cascalho

Lapidar cascalho é perda de tempo. Não perca tempo lapidando pedregulho. Só merece ser lapidada aquela pedra que já é preciosa. Um cascalho pode até vir a transformar-se em diamante, um dia, quem sabe — mas vai demorar um milhão de anos... Lapidar cascalho é pura perda de tempo.

Portanto, um pedregulho pode ser bom, eficiente ou até mesmo belíssimo, exatamente como apenas pedregulho — e dentro dos seus próprios limites. Querer promovê-lo a topázio, ametista, esmeralda ou diamante — é patético. E a tentativa de lapidá-lo, um despropósito. Pedregulhos podem ser lavados, pintados, acariciados, mexidos, beijados... Mas, lapidados — jamais!

Ninguém vai além dos seus limites.

10.10.10

tragedias inventadas

Certas pessoas — desprovidas de raciocínio lógico e sem saber o que é bom senso — inventam para suas vidas uma verdadeira tragédia. Atordoam a própria existência com escolhas duplamente mal feitas, criam ilusões de sacrifício, selecionam seus horrores mais risíveis, montam um palco enorme com suas desgraças preferidas — e entram em cena. E ainda querem que a gente participe dessa peça...

tchekov

Hoje eu quero te falar de Tchekov. Ele inventou o conto moderno e criou o teatro moderno. Isto já bastaria para ser considerado um gênio. Mas ele ia mais longe. Ele gostava de olhar nos olhos da gente, seriamente, e dizer: "Olhem bem para a vida que vocês estão levando: essa vidinha que vocês vivem, seus putos, é um horror... Mudem!"

(*) Frase de Tchekov traduzida do russo por mim, com a ajuda de dois dicionários e meia garrafa de Stolichnaya. Na verdade, ele não disse que "é um horror": ele disse que "é uma merda" — mas, para traduzir tão literalmente assim, eu teria que ter tomado também a outra metade da garrafa...

9.10.10

araras amazonicas

As araras amazônicas podem viver até setenta anos, quando em cativeiro. Mas, soltas no seu habitat, vivem em média apenas trinta e cinco. Como se vê, também no caso das araras, quem vive em liberdade corre mais riscos. Além disso, a gaiola oferece confortos que a vida livre não dá. Então eu te pergunto: se você fosse uma arara, escolheria viver trinta e cinco anos em liberdade, ou setenta em cativeiro?

E se você não fosse uma arara?

8.10.10

Casa Suspensa 2010



Kopenhagen, Shopping Miramar, Santos, 16h52min. Água, café, tempo, Cointreau, ideias e um guardanapo de papel. Eu aguardava Toninho Garcia  (para agendarmos uma entrevista minha para o Programa dele) quando desenhei esta casa. Era dia 08.10.2010.


Quatro dias depois, no restaurante Brahma, em SP, tomando um Cabernet Sauvignon chileno, voltei a pensar nela.



Preciso agora de uma arquiteta criativa e um bom engenheiro calculista.


Republiquei em 28.03.2019, para que possamos incluir os novos esboços (sete ou oito, que fiz nos últimos anos).

luz mortinha

Nas questões do Amor, há quem prefira relâmpagos e há quem prefira luzes menos fortes, menos brilhantes. Quem prefere relâmpagos procura pessoas relâmpagos. Quem gosta de luz meio mortinha, também vai achar alguém que gosta de luz meio mortinha. Pois, como dizia minha vó Vitalina, não existe panela sem tampa. Não acho condenável quem troca a aventura e a liberdade pela segurança. Tem gente que não gosta de risco nem de grandes emoções. É uma questão de preferência. Tem gosto pra tudo. Respeitemos as diferenças! Relâmpagos brilham muito e duram pouco: é da sua natureza. Acontece que até mesmo a luz meio mortinha — um dia também se apaga. Às vezes dura mais, às vezes dura menos, mas também se apaga... É fatal.

6.10.10

assim a nossa vida

A Vida é um jogo, onde só podemos ganhar
aquilo que arriscamos.

E parece que hoje não estamos ganhando muito,
nem perdendo muito.
Nenhuma derrota acachapante, nenhuma vitória espetacular.
Nenhum ato grandioso e nenhuma desgraça marcante.
Nenhuma queda profunda e nenhum salto mortal.
Nem pra cima — nem pra baixo.
Nada!
Nem escuridão, nem brilho, nem glória, nem tragédia.


Nenhuma nova grande paixão inesquecível.

Assim, a nossa vida.

Segura, pacata, certinha e normal.

Tudo em ordem, tudo estável e bem comportado.
Tudo em brancas nuvens...
Mas tudo meio tépido, meio chato,
meio frouxo, meio mole.
Meio apagado.
Meio cinzento — e meio sem graça.


Assim, a nossa morte.

5.10.10

mentira

Ontem eu menti para um morador de rua. Dito assim, sem explicação, parece algo muito negativo. Acontece que foi assim: eu vi que um morador de rua precisava de uma coisa que eu tinha no exato momento em que o encontrei. Disse-lhe, então, que tinha duas delas, e que, por tê-las sobrando, lhe daria uma. Ele, um pouco relutante mas com visível alegria, aceitou minha oferta. Porém, o fato de eu lhe ter dito que tinha duas era mentira: eu só tinha uma – aquela mesma que lhe dei... Acho que vou escrever um pouco mais a respeito. Principalmente, sobre o sentimento de plenitude em que me mergulhei ao ficar vazio de algo que me era útil, mas de que outro precisava muito mais do que eu.

aventuras maravilhosas

Minha louca e poética visão do mundo – entusiasmada e radical – decorre também do fato de eu não ter filhos. Isto, é claro, me dá uma enorme mobilidade existencial, que me permite viver aventuras maravilhosas. Entretanto, devo dizer que, embora não seja o melhor lugar para se fazer amor, a família é o melhor lugar para se criarem os filhos. E o fundamental é que se tenha, na família, uma atmosfera de liberdade, de compreensão amorosa e de respeito absoluto pela individualidade do outro. Se a tua for assim, parabéns!

4.10.10

exclusividade

No Amor, exclusividade é uma coisa que se oferece. Jamais deve ser exigida. Oferecê-la, espontaneamente, e por algum tempo — pode ser uma sublime demonstração de Amor. Mas, exigi-la eternamente — é de uma pequenez monumental de fazer dó. Uma ofensa à própria Liberdade.

3.10.10

lua

A nova Lua, deitada aqui no madrugante chão deste meu quarto, escandalosamente nova e nua, me pede um copo dágua. Antes, dou-lhe um abraço e a frase que me ocorre agora: Quero colocar os meus anseios no teu peito, meu amor. Então levanto-me, abro a janela da Vida — e vejo que já é domingo de novo... Que delícia!

Viva a Democracia

















Preste atenção ao que eles dizem:

Marilena Chaui vota em Dilma
Oscar Niemeyer vota em Dilma
Cristovam Buarque volta em Dilma
Leonardo Boff vota em Dilma
Chico Buarque vota em Dilma

Eu voto em Dilma.

E peço que você também considere esta possibilidade.








Uma breve análise feita por Ciro Gomes.

2.10.10

deus escreve no meu livro

Quando eu era pequeno, diziam-me que Deus escreve no livro da minha vida todas as coisas que eu fazia, e que, no dia do Juízo Final, tudo seria revelado. Nada seria mantido em segredo — nem mesmo aquelas coisas lindas que eu e Marina fazíamos no escuro do meu quarto, de portas fechadas e mãos deliciosas, cheias de creme. Só não me disseram que as páginas desse livro divino seriam guardadas na minha própria cabeça. E que o Deus que escreve nelas sou Eu. A tinta é indelével: nada vai se apagar. Serei condenado pelas verdades que tive medo de dizer, mas serei absolvido pelas verdades todas que eu gritei. A hipocrisia e o medo me jogariam no abismo do inferno — mas a espontaneidade me salva.

1.10.10

jesus metafora

Tudo era metáfora, tudo era parábola em Jesus. Água em vinho, multiplicação de peixes, pobres de espírito, face esquerda, pão repartido, reino de Deus, ressurreição de Lázaro, mãe virgem, Sermão da Montanha, lírios do campo, pássaros no céu, Madalena, Marta, Pedro, nardo — tudo. Dizem até que a própria vida dele não passou de uma grande encenação. Mas isso não tem a mínima importância: Jesus de Nazaré será sempre um dos meus maiores heróis. Um filósofo zen. Um mestre absoluto. Um poeta revolucionário. Compreendo agora suas metáforas geniais e deliciosas. Dia desses vou convidá-Lo para um vinho aqui comigo. À luz de velas.